A maioria
da população reconhece a precariedade dos serviços de transporte coletivo. O
preço abusivo das passagens sempre foi uma queixa. A relação de cumplicidade
entre o poder público e as empresas de ônibus não é novidade para muitos
cidadãos. Esquemas de favorecimentos e financiamentos de campanhas eleitorais
tornam-se, a cada dia, mais comuns nas mesas de debate popular. As
manifestações que estão acontecendo em todo país pela redução de tarifas e pela
melhoria na qualidade dos serviços de transporte coletivo, além de dar ampla
visibilidade para esses conhecidos problemas, trazem novos elementos para pauta
de discussão política, transcendendo a problemática do transporte público.
As
manifestações populares revelaram a forma reacionária e promíscua do poder
público e da mídia em relação à democracia e a liberdade de expressão. No
início do movimento popular, os governos reagiram de forma a repreender os
rebeldes, enquanto a mídia noticiava a agressividade dos manifestantes e os danos ao patrimônio público. Mídia e governos reagiam sem tocar na ferida –
a crise do transporte público, deixando claras as suas posições. À medida que o
povo tomava as ruas e engrandecia o movimento de descontentamento, mídia e governos
mudavam o discurso, passando a reconhecer o direito da população e a
legitimidade dos protestos. Com isso, revelavam-se as suas fragilidades diante
na opinião pública e a promiscuidade ao tratar das questões públicas.
Em
contrapartida, os problemas do transporte público, representando o estopim de
uma sociedade em crise e “desgovernada”, despertaram a população de um coma
anti-democrático, permissivo e pernicioso. O gigante acordou? Se não acordou,
está dando sinal de que está vivo. E isso já é o suficiente para encher de
esperança aqueles que há anos vêm, sem muito sucesso no meio da passividade da
população, lutando contra o sistema.
Em Cabo Frio,
a organizada e contagiante manifestação pacífica comandada pela juventude
surpreende ainda mais, pois, de forma grandiosa e espontânea, liberta a
população de uma histórica condição de submissão ao governo municipal. Governo esse que usa o assistencialismo, o
clientelismo e os empregos de cabresto para manter o controle político da cidade,
a relação mutualística com as empresas privadas e o sistema oligárquico de
enriquecimento.
Estamos
vivendo um grande momento, onde a população, através do exercício da cidadania,
indo para rua, mostrando sua cara, opinando e cobrando, pode conduzir um
processo de transformação de nosso modelo político, deixando a passividade e a
submissão de lado, podando as imoralidades do poder público e construindo uma
verdadeira democracia. A hora é agora. Ou vai, ou racha.