Não sou especulador imobiliário, não me considero ambientalista, sou Professor do Departamento de Geografia e Pesquisador do Laboratório de Geografia Física da Universidade Federal Fluminense. Sou pesquisador na área da Região dos Lagos desde 1992.
Conheço a legislação vigente em meu país, principalmente a legislação ambiental. Posso afirmar que o que se determinou (pelo empreendedor em conjunto com órgãos ambientais do estado do Rio de Janeiro) em relação ao destino da Planície Costeira do Peró é o maior exemplo de desprezo pela legislação ambiental que já presenciei.
Afirmo ser este o maior exemplo de descaso com a conservação do Patrimônio Ambiental da Região dos Lagos que é de todos que vivem, visitam, pesquisam e desfrutam da Planície Costeira do Peró.
Formada por um conjunto único e integrado de dunas, vegetação fixadora de dunas, brejos e vegetação de restinga (mata atlântica); a planície costeira do Peró, eu diria que, por obra do acaso, ficou preservada, até o presente, de todo o processo de ocupação da Região dos Lagos.
Até o presente não, pois com a bênção de licenciamentos ambientais emitidos no apagar das luzes de 2012 (28/12/2012), sem qualquer critério técnico, mas talvez político, permitiu a iniciativa de degradar Áreas de Preservação Permanente (APPs) para implantação de condomínios, hotéis, resorts e outras formas de ocupação, que deveriam e poderiam ser construídas em outras áreas.
Este licenciamento permitiu em curto espaço de tempo a reativação de antigas dunas fixadas por vegetação, deflorestamento, construção de estradas e aterros na área da planície do Peró, alterando de forma dramática aquela área.
Particularmente, não sou contrário a estes empreendimentos, o que me moveu a escrever esta carta está relacionado ao fato que os empreendedores e governo do Estado do Rio de Janeiro não permitem ou aceitam a realocação do empreendimento (para não danificar uma das poucas áreas preservadas da região).
Áreas próximas ao aeroporto formadas por antigas salinas - degradadas em termos ambientais - apresentam as melhores condições para receber estes empreendimentos. Desta forma estes hotéis, resorts e toda a sorte de infraestrutura cumpririam seu papel de recuperar áreas danificadas.
O governo do estado e os empreendedores não mostram nenhuma sensibilidade à procura de novas áreas. Sugerindo o dano ao meio-ambiente, a fragilização da legislação ambiental, a perda de recursos naturais e de serviços ambientais como resultados deste empreendimento.
Peço, portanto, a resistência da sociedade ao empreendimento Costa do Peró - que se iniciou com a benção do órgão do estado do Rio de Janeiro – e que parem com a destruição autorizada de APPs, realizadas sem qualquer critério técnico."
Por Guilherme Borges Fernandez / Laboratório de Geografia Física – LAGEF / Instituto de Geociências – Universidade Federal Fluminense